De um modo algo subtil, a casa pátio transporta-nos para um ambiente particular de abstracção arquitectónica, onde o construído deve existir numa lógica proporcional com o elemento vazio contíguo. A problemática inerente à definição arquitectónica da casa pátio remete para a análise das interferências e das relações entre espaço exterior e interior, para a relação dos cheios e vazios, para a lógica e consistência da construção, na sua interferência ou coerência com o espaço não construído.
Por sua vez, o espaço exterior do pátio deve ser encarado como elemento unificador e ordenador da composição, onde a resultante de transição de espaços possa permitir um claro discurso de vivência ambivalente que alterne entre exterior e interior.
Tal qual a expressão de um puzzle, este vazio não deverá ser, portanto, somente um espaço sobrante. Este vazio deverá ser simultaneamente exterior à composição, por transportar uma identidade própria, e pertencente à composição quando integrado numa lógica de unidade.
Esta coerência de relações, que se estipulam muito para além do desenho, constrói e potencia novas operações de vivência do quotidiano, distintas daquelas que ocorrem nos tradicionais dispositivos habitacionais.
Nesse sentido surge uma composição tipificada, com uma imagem identitária do lugar CASA (HOME), com cobertura inclinada e com a indicação de uma porta.
A anulação de todos os vãos voltados para o exterior do lote, procura simultaneamente resolver a necessidade de multiplicação e dispersão do módulo, que se poderá implantar numa multiplicidade de direcções sem que haja prejuízo na compartimentação do interior, potenciando a capacidade do mesmo de “fazer tecido”.
Este elemento, poderá ser construído no local com sistemas vernaculares de aglomeração de argila, precedidos de uma seca natural, permitindo, pela irregularidade da sua composição e pela transição entre cada tramo vertical, criar uma imagem diversificada de cada componente habitacional.
Em suma, o projecto apresentado surge, deste modo, não somente como uma resposta a um programa de projecto, mas como uma potenciação do modelo tipificado de habitar, procurando, todavia, ser realista nas hipóteses sugeridas considerando constantemente a realidade para a qual deveríamos apresentar a solução.
Neste sentido, a composição arquitectónica ocorre numa lógica de interdependência de relações que se definem mutuamente enquanto se complementam. O entalhe é simultaneamente peça e conexão, cheio e vazio, permitindo que se analise e densifique aquele espaço que está confinado pela arquitectura.